Um dia, quando tiveres tempo ensinas-me a pintar quadros interminaveis com rimas cruas e palavras claras. Quero escrever sobre qualquer coisa como tu contas as tuas historias. És o poeta que vê, e nós vemos tudo contigo.Amas o que vês, da única maneira verdadeira de amar, sem ilusões. Não há mentiras nas tuas linhas, as tuas telas não são felizes mas nem tanto são tristes. Têm o tom supremo da Arte e são apenas!
De tarde
Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.
Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.
Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.
Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.
Cesário Verde