Friday, March 14, 2008

Homenagem a Cesário Verde

Um dia, quando tiveres tempo ensinas-me a pintar quadros interminaveis com rimas cruas e palavras claras. Quero escrever sobre qualquer coisa como tu contas as tuas historias. És o poeta que vê, e nós vemos tudo contigo.Amas o que vês, da única maneira verdadeira de amar, sem ilusões. Não há mentiras nas tuas linhas, as tuas telas não são felizes mas nem tanto são tristes. Têm o tom supremo da Arte e são apenas!

De tarde

Naquele «pic-nic» de burguesas,
Houve uma coisa simplesmente bela,
E que, sem ter história nem grandezas,
Em todo o caso dava uma aguarela.

Foi quando tu, descendo do burrico,
Foste colher, sem imposturas tolas,
A um granzoal azul de grão-de-bico
Um ramalhete rubro de papoulas.

Pouco depois, em cima duns penhascos,
Nós acampámos, inda o sol se via;
E houve talhadas de melão, damascos,
E pão de ló molhado em malvasia.

Mas, todo púrpuro, a sair da renda
Dos teus dois seios como duas rolas,
Era o supremo encanto da merenda
O ramalhete rubro das papoulas.


Cesário Verde

Nota

Nota bem, faz o balanço da tua vida. Com cuidado contabiliza os prós, os contras, desenha bem os números, confere tudo na calculadora da tua mente. Escreve tudo isto, assim a jeito de quem não tem medo, morde o lápis e não faças uso da borracha. 
Aí tens, a tua maturidade, queria-la tanto, aí tens a tua liberdade, aquela que parecia mesmo aliciante, que te ia mudar a vida. 
Diz lá, se em face de tudo o que isto implica, nao trocavas tudo por uma boa caneca de chocolate quente e uma festa na cabeça?