Tuesday, September 21, 2010

Aos 23



"Blackbird singing in the death of night, take this broken wings and learn to fly" e é assim que é a vida das pessoas com 20 e poucos anos. Depois da longa noite de borbulhas e armários chega a década da vida em que tudo é suposto ser feliz e bonito. Aqui na casa dos vinte é suposto sermos bonitos, cheios de vida e de força. É suposto também estarmos no "principio da vida", cheios de certezas em relação ao futuro que há-de vir.
Mas é tudo treta, é tudo invenções de quem, com toda a certeza, já não se lembra do que é ter 20 e poucos anos. Tirando as tais broken wings, nada nos deram que nos preparasse para o que aí vinha. Antes as incertezas adolescentes, as hormonas aos saltos e os armários fechadinhos. Tudo se prefere a ter que andar de saltos altos e fingir que se sabe da vida.
Os vinte são inconsistentes, depressivos e, como um banho de água fria, são um wake-up call para a vida real. Já não há desculpas e já toda a gente tem a nossa idade. Os "adultos" já não existem, somos todos muito amigalhaços e até bebemos copos juntos. Fala-se de igual para igual embora (como qualquer pessoa fora da casa dos vinte sabe) esses putos não saibam nada da vida, daí a palmadinha nas costas e o sorriso compreensivo.
Ter vinte anos é andar por aí a fingir que se é gente, às apalpadelas a tentar descobrir um lugar onde não olhem para nós com aquela cara de quem é suposto ter uma resposta qualquer. A culpa não é das pessoas com vinte e poucos anos, a culpa é dos outros todos que não se decidem se somos crianças com licença para conduzir e beber álcool ou se  já sabemos coisas.
Enfim, os 20 podem ser bonitos e frescos. Podem ser carinhas larocas e corpo ainda no lugar, podem até ser mais agradaveis que os 15. Já se pode pedir um copo de vinho, fumar um cigarro e ter casa prórpia. O que os vinte anos nunca serão é anos felizes.