Thursday, June 26, 2008

Paradise City (where there's no grass e as raparigas são o que São)


Caros leitores (que no fundo no fundo são sempre os mesmo quatro), falo-vos de Macau. Aqui as luzes dos casinos e das lojas ofuscam todos os olhos, há qualquer coisa por aqui (mais que o barulho constante das fichas de jogo) que chama a uma vida diferente. Os cristais, os neons, os grandes carros, as muitas motas criam um fru fru impaciente e apelativo. Dois dias em Macau, e todo este mundo abre o apetite para o luxo, mas também para a largueza. Nesta terra pequena onde nada tem a sua dimensão, é fácil perdermos-nos mas é fácil também encontrarmos-nos.
É no meio de toda esta confusão que as coisas pequenas se esquecem e perdem, vai-se alegremente de pijama ao supermercado, anda-se relaxado em caminhos escuros a altas horas, os velhos dançam vagarosamente o seu tai-chi nos jardins, e há uma calmitude que só pode nascer do caos, da confusão e da desarmonia.
É aqui em Macau que se passeia de tarde, que se almoça em casa, que se entra numa tasca qualquer a qualquer hora da manha, da tarde ou da noite, é aqui que a vida sem exotismos e sem barulhos acaba por existir.

Wednesday, June 18, 2008

As Mulheres e o Sex and the City


Disseram-me (um homem), que pior do que as meninas dos rappers de vos falei do post anterior , eram as senhoras do Sex and the City. Segundo ele, estas senhoras são o cúmulo da futilidade. Sim, uma pode ser advogada, outra uma PR famosa, outra uma jornalista e ainda outra pode trabalhar numa galeria de arte, mas talvez porque se vistam bem ou se importem com a imagem tem direito a ser comparadas com as meninas que aparecem nos clips de R&B.
As personagens desta serie, apesar de terem muitas coisas irritantes, representam uma classe de mulheres instruídas, que enfrentam sozinhas o dia-a-dia. Ao contrário do que este meu amigo pensa, as pessoas podem aparentar uma certa futilidade sem o serem completamente. Aliás como disse a verdadeira cultura pop serve-se disso para, com uma luva branca, esbofetear a cara de intelectuais presunçosos. Assim, estes saltos altos são calçados com amor próprio um sorriso no rosto e com a cabeça bem posta no lugar. Nas prateleiras de senhoras como estas vêem-se não só sapatos caros mas também bons livros, o que não têm que ser sinónimo de sapatos rasos e caras desmaquelhadas.
A pop culture , com eu tenho a certeza que o este meu amigo sabe tão bem, é apologista da sociedade de consumo. É a ela que vai buscar os temas com que se inspira. O neon brilhante e as latas vermelhas de coca-cola chamam a atenção desta arte, que vive fascinada com o dia-a-dia, e a única coisa grave, é confundirmos isso com o descrédito total da cultura e a apologia do "fast food" cultural do "ma bitch".
Não tendo a cultura musical do meu amigo, tão mais sábio que eu, sei que houve pelo menos tempos em que o RAP foi usado para criticar a sociedade e que o Rock cantou sempre coisas mais interessantes do que "a minha puta", e por mais alcool e gajas sempre foi ou quis ser, underground.
E para concluir, antes mulheres com bons sapatos que machões de grandes carros, uns têm classe os outros são simplesmente...machões.

PS: Ninguém diz que os sapatos rasos não são igualmente elegantes :P

Thursday, June 05, 2008

POP Culture e afins




Houve tempos talvez, em que a POP culture, movida por interesses políticos e coisas que tais, representava ideias revolucionarias. Tudo passou a POP, a música, a arte e até mesmo a literatura. POP, ou popular, não era frívola nem desprovida de interesse e qualidade ,antes representava uma luta que a classe intelectual já cansada e velha precisava de ter com uma cultura de massas que por se-lo era não era menos nova, pujante ou cheia de coisas para dizer.

Algures no caminho alguma coisa se perdeu. Agora a arte da frivolidade aparente, deixou o "aparente" (e francamente a "arte") para ser simplesmente frívola. Agora já não se ouve música POP porque ela é diferente ou pujante, mas porque ela é fácil e está na moda. As cantoras e as bandas já não escrevem as músicas, elas são desenhadas por grandes empresas que sabem o que cativa as pessoas e os jovens. Perdeu-se a mensagem, o POP já está velho, corrompido e a precisar de reforma.

Mas nada disto é o pior ou o perigo da POP culture. O grande problema é que enquanto estamos muito divertidos na discoteca a dançar ao ritmo do R&B , dançamos e bebemos a coisas como "ma bitch" isto e "ma bitch" aquilo. Tratar as mulheres como a minha puta isto a minha puta aquilo, passou a ser cool. O RAP, que antes era música de intervenção política e social, agora passou a ser a música de homens grandes, vestidos com roupas 10 números acima que usam diamantes, compram muitos carros com spinners, e têm muitas mulheres boas que só vestem bikinis e sapatos altos e que não se importam de serem as "ma bitch" daqueles homens tão cool. Mas a verdade é que enquanto o pessoal curte a música e o ritmo estonteante a mensagem vai, infelizmente, passando. E passado pouco tempo já não são só os rappers que tratam as mulheres por putas, os filmes e eventualmente o público passam a fazer o mesmo.
A música, a arte e a literatura, mesmo que POP deviam servir para resolver os problemas sociais de uma classe que se exprime de maneira não intelectual... Quando é que passou a ser cool, denegrir a imagem da mulher, aplaudir as medidas políticas estranhas dos governos e aceitar o status quo?

Sou só eu ou a cultura POP vai ficando cada vez mais reaccionária enquanto nós o público alvo, vai ficando menos capaz de ver para além dos carros grandes, das mulheres boas, e ignorar coisas como messangens políticas bem disfarçadas de hollywood e afins? Não pretendendo substituir a cultura POP por nada vermelhinho ou de esquerda, é no entanto, mais que necessário abrir os olhos e fazer qualquer coisa.

PS: a autora deste texto não se veste de preto nem é hippie. Ouve Guns and Roses, usa sapatos altos e vê filmes e series até mais não.


"I am for an art that takes its forms from the lines of life itself,
that twists and extends and accumulates and spits and
drips and is heavy and coarse and blunt and sweet and
stupid as life itself."
Claes Oldenburg (about POP Art)