Sunday, May 31, 2009

FODA-SE


De há dois dias para cá acabei oficialmente o meu curso. Ainda não tenho canudo nem o chapéu esquisito, mas para todos os efeitos acabei o meu último exame. À minha volta vejo gente entusiasmada com o futuro, projectos a serem feitos ou caras chorosas pelas amizades que vão, mais uma vez, deixar para trás. Aquim na St. Peters Grove o frenesim é diferente, há caixotes para fazer, roupa para escolher e o futuro parece ainda a anos luz de distância. Não sei muito bem onde encaixo e os meus sonhos ainda não apareceram. Confusa espero pelo tempo em que me vou enroscar no sofá a comer chocolate e a ler livros pesados como nos bons velhos tempos em que ainda usava vans e não via séries.
"Quando o presente é incerto e o futuro é distante o passado vem-nos sempre à memória como o tempo em que fomos felizes", assim lia um conto de autor do meu livro de Português do nono ano (ou pelo menos qualquer coisa parecida). Agora aqui sentada na minha cama às 6:28 da manhã, percebo finalmente o conto que estudei há tantos anos: a realidade avassaladora que o amanhã há-de chegar, traz-nos um sentimento qualquer desconfortável que preferimos substituir como uma memória qualquer que julgamos feliz. Agora é finalmente a hora e eu não sei o que fazer com ela... FODA-SE!

Thursday, May 14, 2009

Pelos Teus Lindos Olhos

Não sei porquê, talvez tenha sido a lata de coca-cola e o brigadeiro de chocolate... Foi qualquer coisa. Provavelmente foi o vinho e a vodka, ou até a flor-de-lótus gigante. Não foram grandes gestos românticos que se vão embora ou se repetem. Demorei uns anos a descobrir, mas acho que foi uma entrada num curso e um abraço forte no aeroporto quando me viste. Mas principalmente a cóvinha do lado esquerdo da tua cara e o sorriso corado que se seguiu.

Apátrida



Fui portuguesa durante bastante tempo. A poesia que li foi toda em português, estudei os Maias, comi caldo verde com chorico e torci pela equipa nacional. O meu sonho aos 15 anos era puder ter 18 e pôr o meu voto em branco numa urna. Vivi as reformas do ensino e novo código do trabalho com coracao na boca, sabia o hino de traz para a frente e, mais que isso tudo, vivia a sonhar com o sol portugês. Portugal era em todos os sentidos possiveis a minha pátria, a minha terra.
Nunca por segundos me lembrei que tinha nascido em África e vivido a minha vida toda na Ásia. Julgava como todo o meu ser que tinha a indentidade etendida e arrumadinha com o meu passaporte.
Quiz o destino, e a minha grande teimosia, que eu fosse para portugal. Na altura não cabia em mim de contente, todos os meus problemas se iam acabar. Amor, felicidade e muita luz era o que me esperava no país do céu azul, na Lisboa dos romances do Eca, na Évora do Virgílio Ferreira. Subir o bairro alto, passear na baixa e pedir "uma bica se faz favor", pareciam ser coisas de um sonho qualquer. Finalmente ia estar com os meus.
A desilusão não passou pelos banhos de chuva fria do Inverno português, nem por viver num colégio interno nem nada dessas coisas... Não, o momento triste foi quando eu descobri que não gostava de bicas e que afinal ninguem tinha lido a aparicão.