Monday, January 17, 2011

Escrever e outras artes


Todos os adolescentes acham que escrevem, pior ainda, todos os adolescentes acham que os poemas de Pessoa, são escritos directamente para eles.
Eu costumava decorar a poesia de Álvaro de Campos e, nos meus 13 anos, a de Florbela Espanca. Depois quase às escuras, escrevi-as no meu diário, como se elas dissessem aquilo que eu queria dizer e não conseguia.
Passaram-se anos e ainda faço isso. Preferia, naturalmente, que as palavras e as frases, as virgulas e os pontos me saíssem como eu os penso. Não saem. A verdade dura e triste é que não sei escrever. Pelo menos, não de alguma maneira que valha a pena. Haverá certamente muitas explicações desde a minha dislexia, à minha geração triste passando pela mais óbvia, uma falta de talento.
Com o passar do tempo deixamos de ser o centro das atenções. Saímos de casa e já não temos piada nenhuma. Ocorre-nos então um pensamento interessante, o de sermos úteis. Assim se fazem andar sociedades, com pessoas úteis. Talentos há poucos e dão trabalho. Porque não apostar em tarefas mínimas? Atender telefones, fazer girar a máquina burocrática, enfim... pelo menos chega-se a casa todos os meses com o cheque.
Mas o que fazer com aquele sobressalto no coração, aquela insatisfação própria dos artistas? Ler poesia? Fazer desenhos, escrever blogues, à noitinha ver um filme intelectual e de tarde falar de politica no café? Não chega. Para isso mais vale voltar a ter 15 anos e todas as certezas de infelicidade. A verdade que ninguém nos diz é que nunca se sai do armário.