Thursday, May 14, 2009

Apátrida



Fui portuguesa durante bastante tempo. A poesia que li foi toda em português, estudei os Maias, comi caldo verde com chorico e torci pela equipa nacional. O meu sonho aos 15 anos era puder ter 18 e pôr o meu voto em branco numa urna. Vivi as reformas do ensino e novo código do trabalho com coracao na boca, sabia o hino de traz para a frente e, mais que isso tudo, vivia a sonhar com o sol portugês. Portugal era em todos os sentidos possiveis a minha pátria, a minha terra.
Nunca por segundos me lembrei que tinha nascido em África e vivido a minha vida toda na Ásia. Julgava como todo o meu ser que tinha a indentidade etendida e arrumadinha com o meu passaporte.
Quiz o destino, e a minha grande teimosia, que eu fosse para portugal. Na altura não cabia em mim de contente, todos os meus problemas se iam acabar. Amor, felicidade e muita luz era o que me esperava no país do céu azul, na Lisboa dos romances do Eca, na Évora do Virgílio Ferreira. Subir o bairro alto, passear na baixa e pedir "uma bica se faz favor", pareciam ser coisas de um sonho qualquer. Finalmente ia estar com os meus.
A desilusão não passou pelos banhos de chuva fria do Inverno português, nem por viver num colégio interno nem nada dessas coisas... Não, o momento triste foi quando eu descobri que não gostava de bicas e que afinal ninguem tinha lido a aparicão.

1 comment:

Luis Ortet said...

Ola

Gosto deste post, esta escrito assim a fugir para a short story e termina com elegancia.
Sim, ninguem leu a Aparicao. Onde esta entao a nossa patria dos livros da escola?