Friday, March 12, 2010

Sexo e afins

Está tudo ao contrário. A relação das pessoas com os afectos que sentem é cada vez mais complicada. Por um lado está tudo muito feliz porque já não há tabus e há a pílula e o preservativo, por outro, criam-se cada vez mais tabus. A diferença é que o sexo é tão fácil e está tão normalizado que o que é anormal é ter sexo com alguém que se gosta. Se antigamente vivíamos numa sociedade fechada e quadrada, hoje a quadradice é a mesma. Ir para a cama é normal, mas para dizer a alguém "amo-te" é um passo gigante. Tão gigante que o melhor mesmo é continuar a dormir com ela todos os dias para "não lhe dar a ideia errada". E, god forbid, que chegue o dia em que se tenha que definir a relação, ou que, mesmo sem querer se diga qualquer coisa simpática. Não, hoje o tabu não é o sexo, hoje o tabu são as relações sérias ou a fraqueza que é gostar mesmo de alguém. É como se estivéssemos todos na escola primária e não quiséssemos que o menino soubesse que gostamos dele. Já ninguém é capaz de olhar para uma pessoa nos olhos e dizer, sem constrangimentos nem pirosices, "olha eu amo-te/ quero ficar contigo". A única situação em que é aceite amar-se é quando se telefona para o Portugal Coração e se "ama muito os filhinhos lindos que se tem".
As senhoras vão para os bares beber cocktails e esperar que alguém lhes pague bebidas e os homens vão para os bares pagar as tais bebidas num ritual que não teria mal nenhum se as pessoas se deixassem de jogos parvos e fossem directas ao assunto: ou querem sexo ou estão à procura de afecto. Mas hoje, infelizmente, temos todos muita vergonha de precisar de afecto ou, veja-se o horror, de outra pessoa.

No comments: