Sunday, February 04, 2007

Amor

Aos Amantes

Sim, depois de muito resistir à tentação, eu tenho que escrever qualquer coisa sobre o amor.
Já a minha mãe diz que não há ideias novas. Sobre o amor calculo que nunca tenha havido. As ideias são sempre as mesmas, os amores impossiveis, os dificeis, os incorrespondidos...enfim os vales de lágrimas do dia-a-dia. Às vezes, muito mais raramente há lugar para os amores normais, quase felizes. Sim aquele dos risos parvos, dos olhos brilhantes, da primavera cheia de flores...esse! Não tenho nada contra os outros, aliás o Romeu e Julita, o Pedro e Inês, sempre fizeram o meu coração palpitar. Mas hoje queria falar do que nos faz felizes, eu sei que tem muito menos arte, mas mesmo assim queria tentar.
Na vida nem tudo corre mal, depois de beber demais, nao ser realizado,ter um mau dia tomar prozac para ver o mundo como as pessoas que não precisam de tomar prozac, mas de vez-em-quando o mundo pára.




Pára assim por uns sengundos, e nós morremos, ou antes renascemos. E depois é o "La vie en rose" all over again. Vemos alguém que nos viu, somos alguém no mundo de alguém, e isso faz-nos ver tudo muito melhor. Estamos apaixonados, e ao contrário do que eles dizem, o primeiro não é melhor que os outros todos, quando nos apaixonamos é sempre pela primeira vez. As pessoas felizes já não nos metem confuão, ouve-se o mundo e vêem-se as cantigas de amor. É tudo tão foleiro que isso deixa de ter importância( até as rosas vermelhas parecem originais quando estamos apaixonados). E a vida, qual desenho animado da disney! O nosso mundo passa a ser visto no reflexo dos olhos de alguém, somos felizes para sempre (mesmo que para sempre só dure um segundo)
Amamos sempre a pessoa prefeita, e só por essa pessoa existir o mundo com todas catátrofes já vale a pena. É um rodopiu que não acaba mesmo que saibamos que ele ha-de acabar.
Quando estamos apaixonados tudo vale a pena, até o Romeu e Julieta, até o cliché das rosas vermelhas, as luas-cheias e o por do sol na praia, as palavras "fofas"como bebé e princesa.Na verdade os olhos estão a ver pela primeira vez e como crianças cheias de apetite, querem comer tudo ao mesmo tempo.
Ama-se muito, com muita vontade, ama-se demais, ama-se simplesmente não importa bem porquê, é daquelas verdades que se sabem como dogmas. Nascemos no mesmo dia em que nos apaixonamos, e vamos morrer por a pessoa que amamos. Amar e estarmos apaixonados, é das únicas verdades certas que temos, por isso o Amor até pode ser fodido que não nos importamos...

"Amemos muito como odiamos já
a verdade está nos extremos
Porque é no sentimento que ela está"


Sarah

2 comments:

filipe canas said...

Que bom post sarah.

O amor é sem dúvida um assunto complicado sobre o qual muito foi escrito mas que parece, no entanto, continuar em forma. Não está gasto. O tempo não o erode.

É tudo tão feliz quando se ama alguém. É mesmo bom sentir aquele sentimento de partilha, aquele "não estou sozinho". Temos sempre um sitio para onde fugir quando o resto corre mal. Temos sempre alguém para falar e ouvir.
Para nos abraçar e dar mimo.
Para nos ajudar a fazer sentido disto tudo e para nos ajudar a perceber quem somos e o que queremos fazer e ser.

Concordo contigo que a melhor parte é o começo. É sempre novo.
Eu até gosto quando ainda nem começou. Quando se conhece uma pessoa. Se trocam os primeiros olhares, as primeiras palavras, o primeiro sorriso (meu deus o primeiro sorriso é tão bom!).

Ainda não aconteceu nada, mas na minha cabeça eu já tenho tudo. Já imagino tudo, já sei como quero que seja. Como vou fazer para que seja assim.

Claro que passado um tempo volto á racionalidade. Digo para mim próprio - "vá, só a conheceste hoje".

Mas para mim é mesmo o melhor.
Imaginar o amor. Imaginar como vai ser. Sonhar com ele.

Depois a realidade é como é.
Mas o sonho ninguém mo tira.

Anonymous said...

O amor de facto é um tema que não se gasta; por muita tinta que já se tenha derramado sobre o assunto, há sempre mais alguém que tem a espantosa imaginação para dizer as mesmas palavras que vão sendo murmuradas permanentemente ao longo dos séculos, como uma interminável oração a uma causa misteriosa. É como a morte: basta não sabermos "porquê?", que tentamos cobrir o desconforto de uma realidade perturbante por camadas estratigráficas de ideias acerca do assunto. O facto é que toda a gente entende o amor e toda a gente entende a morte, mas ninguém os aceita. A Arte é uma característica humana para forçar uma tela colorida sobre um rude assunto branco. Ao contrário, a realidade é um silencio atroz pronunciado no discurso da indiferença cósmica. É difícil imaginar que uma coisa tão impetuosa como o amor faça parte da mesma casta de fenómenos que agem como nós não estivéssemos cá a pensar e a ser divinos. Mas é. O amor dói, o amor faz-nos realizar as maiores loucuras (termo que está perto de se tornar uma palavra técnica nesta matéria), cristaliza o tempo nas nossas mentes como se afastasse de vez o temer do segundo seguinte... mas a verdade é que todos sabemos que este rio de deleites segue o mesmo percurso que tudo o resto: a usura, a redundância e a enumeração dos momentos. Com o tempo a própria paixão imobiliza-se e torna-se uma peça do imobiliário de uma relação. E chega ao fim. A menos que não se confunda paixão com amor. O truque de mestre é entender que a paixão é hormonal e o amor é sentimental, i.e., neuronal. Com sorte ficamos com alguém que tem a ganhar e a perder com a nossa vida intima. Apaixonar-se é uma formalidade emocionante e divertida que por vezes precede o amor. Senão preceder, é pelo menos sempre melhor que jogar às charadas. Há uma muito bela frase de - lamento desiludir o autor - não sei quem que disse qualquer coisa do género: "Um rapaz é aquele que está pronto a morrer pela sua causa. O homem maduro é aquele que está pronto a viver pelas suas ideias." O mesmo se aplica ao amor. As rosas e os momentos de inebriez são fortes mas são absorvidos pelos tecidos rotineiros com o passar do tempo. O vinho e as velas passam a ser técnicas de manter a sua cara metade acordada para aproveitar o decorrer de uma relação feliz.